EPISÓDIO 11 -
FANTASMA
Depois de muitas horas refletindo
sobre o que aconteceu, simplesmente desligo meu corpo e minha mente. Escuto ao
longe um barulho de sirene policial, ainda imersa no sono só desperto ao ouvir
o barulho na porta, era Beatriz com uma bandeja de café da manhã.
– Minhas coisas estão parcialmente arrumadas,
os últimos detalhes eu resolvo durante a noite quando meus pais estiverem
dormindo. – Ela senta na cama e apoia a bandeja no meu colo com um enorme
sorriso de satisfação em seu rosto.
– Precisamos conversar. – Meu tom de voz
acabara de desfazer o tal sorriso q ela estava carregando.
– Não me diga que resolveu seguir caminho
sozinha?
– Quero saber o motivo pelo qual me trata
desse jeito. A única informação que tem sobre mim é meu nome, minha idade
talvez.
– Eu achei você uma mulher muito bonita e misteriosa
no início, você estava tão séria quando chegou aqui, confesso tive um pouco de
medo, mas algo em seus olhos me diz que você é mais que isso, você tem no
fundo, o olhar de uma pessoa que se preocupa com os outros, um olhar dócil.
Imagino que você deve ser uma pessoa sozinha, assim como eu. Por mais que eu
sempre esteja rodeada de pessoas, hóspedes, sinto que não pertenço a esse
lugar. Não há nada de errado em querer juntar duas almas solitárias, não é? –
Ela abaixa a cabeça, pega uma colher da salada de frutas da bandeja e conduz
até meus lábios. – A curiosidade pode ter se transformado em excitação no meio
cominho, mas isso também não é nenhum crime. – Ela desloca a bandeja para o
lado da cama e inclina seu corpo sobre o meu. – Afinal, ontem você correspondeu.
– Seus lábios encontram os meus novamente, suas mãos acariciavam meu corpo, mas
a interrompo segurando seus braços.
– Hoje acordei com barulho de uma sirene
policial. Aconteceu alguma coisa? – Ela bufa.
– Encontraram um homem morto de forma horrível
na estrada, já é segundo corpo encontrado nesse estado, o delegado parece estar
empenhado a reduzir o número de assassinatos na região, meu pai acha que é
algum assassino de aluguel. Já minha mãe acha que é algum assassino do exército
por causa dos outros assassinatos que ocorreram nessa última semana.
– E mesmo sabendo dos assassinatos e do
perigo da região, ainda assim quer fugir com uma desconhecida?
– Me diz você, também não tem medo de morrer?
– Eu já estou morta.
Uma voz grave vinda do corredor chama
Beatriz, ela me encara ainda sem entender muito bem o que quis dizer com tal
frase, mas ainda consegue ser irritantemente gentil.
– Tome seu café sossegada que eu voltarei
mais tarde para buscar a bandeja, não se preocupe. Qualquer coisa que quiser, é
só ligar para a recepção com esse telefone que está na mesa de cabeceira.
Passei toda parte da tarde deitada
planejando a melhor forma de seguir meu caminho, agora acompanhada. E repenso
sobre os outros assassinatos que estão acontecendo, então existe algum outro
assassino na cidade. Ligo a
televisão e procurando pelo canal de notícias encontro delegado dando seu
pronunciamento sobre a violência na cidade.
“Já foram mobilizadas equipes especializadas
para resolver os casos, e os assassinos serão encontrados e devidamente
punidos. Essa semana foram encontrados 6 corpos ao todo, 3 homens e 3 mulheres,
e os padrões estão sendo estudados e acreditamos que esses assassinos possam
ter algo em comum, as provas foram recolhidas e encaminhadas para os
laboratórios, não podemos afirmar nada, mas estamos mais perto que eles
imaginam.”
Minha gargalhada alta
toma conta de todo ambiente, seja lá quem for esse assassino, não tem nenhuma
ligação comigo, se a polícia colar nesse assassino, será proveitoso para mim.
Levanto-me e começo a arrumar novamente minhas coisas, embrulho a faca com o
lenço, recolho o revolver, ponho tudo novamente em minha bolsa e pego uma
cerveja e me mantenho firme esperando a madrugada. Minha mente só conseguia se
concentrar nas imagens da noite passada, toda aquela matança, aquela excitação,
todo aquele sangue nas minhas roupas, no meu corpo, o sentimento de libertação
a cada facada.
A madrugada chega e Beatriz entra no
meu quarto eufórica.
– Meus pais estão dormindo, podemos ir. – Ela
está com uma bolsa e um sorriso enorme no rosto.
Seguimos na estrada, pegamos um táxi
que nos deixou num hotel na cidade mais próxima, durante todo caminho seus
olhos brilhavam olhando pela janela, seu sorriso enorme denunciava sua
ansiedade e euforia, enquanto eu não conseguia parar de pensar em quanto eu
queria sentir a adrenalina e o cheiro de sangue novamente. O táxi nos deixou
numa esquina aonde havia um hotelzinho qualquer, entramos no quarto e ela me
carregou até a janela, o barulho da cidade, carros, buzinas, jovens bêbados,
ela mal podia esperar para se jogar na noite, de alguma forma o sorriso dela me
confortava, sua mão novamente toca meu corpo, sua boca se aproxima, novamente
eu fujo, o desespero me invade e as imagens dos corpos, todo aquele líquido
vermelho se derramava na minha mente e eu precisava sair dali.
– Por que você foge? – Ela andava em minha
direção enquanto eu fugia.
– Preciso sair, continue dentro do quarto,
volto antes do amanhecer.
Pego minha bolsa e bato a porta, eu
preciso de mais, mais sangue, eu preciso sair daqui. Corro pela rua e sento num
banco em frente ao bar mais próximo, encaro a multidão dentro do bar como
cardápio, escolhendo delicadamente o prato da noite, até que um homem que
aparenta meia idade, jaqueta, capacete na mão, nos encaramos, abro meio
sorriso, ele se encarrega de atravessar a rua em minha direção, me levanto.
Vamos à caça.
– Gostou do que viu? – O homem é um tanto
atrevido, mas isso facilita o processo.
– Parece que você também gostou, então acho
que deveríamos poupar o diálogo.
Vejo o mesmo sorriso em seu rosto, o
mesmo sorriso das últimas duas vezes, seu braço envolve forte minha cintura e
ele me conduz até um beco próximo, pressiona meu corpo contra a parede, ele
tenta me beijar, viro meu rosto e deixo sua boca mordiscar e beijar meu
pescoço, observo o lugar e não há nenhuma câmera no lugar, ele puxa meu cabelo
e tenta tirar minha bolsa do meu ombro, tiro sua mão e ponho novamente na
parede, escorrego minha mão até a bolsa meio aberta, sinto a faca e a seguro
firme, com a outra mão viro seu rosto para o outro lado e lhe mordisco a orelha
e beijo seu pescoço, distração perfeita para que eu possa lhe acertar com a
faca, fora um golpe perfeito na altura do pulmão, suas pernas fraquejam, eu
assumo o lugar, puxo-o pela gola e seguro na parede, seus olhos amedrontados me
renovam e antes que ele possa falar algo enfio a faca em sua garganta,
novamente em seu peito, furo seus olhos, seu corpo falece e escorrega pela
parede até atingir o chão, uma das suas mão segurava firme a alça da minha
bolsa, então arranco-lhe as mãos, como de costume, levanto-me, embrulho a faca
no lenço e guardo em minha bolsa.
– BEATRIZ! – Saio correndo atrás dela pelas
ruas, enquanto limpava minhas mãos.
– Fica longe de mim!
O sinal se abre no final na rua e ela
é obrigada a parar de correr, então a seguro firme pelo braço, posso ver a cara
dela de medo e desespero enquanto as lágrimas correm pelo seu belo rosto.
– Para de chorar e me acompanhe. – Pelo meu
tom de voz, e agora sabendo o que eu sou capaz de fazer, por medo, ela me
acompanha. Ela até tenta relutar durante o caminho, mas acabo levando ela para
uma praça, dei a mão a ela e andamos até uma ponte que passa em cima de um
riacho.
– Está de madrugada e você me trouxe para cá.
Por que me trouxe para cá? Você vai me matar também, não vai? – Em meio a todas
aquelas lágrimas, ela estava apavorada. Chego perto e acaricio seu rosto
delicadamente.
– Essa não era a pergunta que você deveria me
fazer.
– Você é a assassina que a polícia está
procurando. É você. Eu não acredito, como eu fui tola. – Seus olhos estavam
arregalados, ela estava transtornada, tentava me empurrar enquanto eu segurava
seus braços. – Me deixe ir ou me mate de uma vez. – Seguro seus ombros e a encosto
na grade da ponte.
– Você não tem ideia de quem sou eu, você não
sabe o que eu passei, não sabe meus motivos, você deveria ter ficado no quarto
como eu mandei. – Envolvo aquela pequena menina loira dos olhos brilhantes em
meus braços com lágrimas nos olhos. – Eu até gostava do seu sorriso.
– Mas você vai me matar. – Ela olha no fundo
dos meus olhos, seus olhos não tinham mais o mesmo brilho, estavam cinza e
opacos.
– É preciso. Você sabe demais. – As palavras
escapam dos meus lábios e me atingem como um soco na boca do estômago. Minha
mão pega a faca e a golpeio no meio das costas, dos seus olhos escorrem a
ultima lágrima. Então largo seu corpo e deixo seu corpo cair no rio junto com
uma única lágrima minha. Ponho novamente a faca na minha bolsa e saio correndo.
Bastou apenas alguns passos para eu ouvir a voz que tanto me incomodava, mas havia algo errado.
– VOCÊ ESTÁ MORTA. – Como ela poderia estar
ali?
– É verdade Victória, você me matou. Você me
matou! – Ela me assustava, como era possível vê-la ali? Então eu corri, corri
até minha visão ficar turva, corri até me faltar o ar, corri até minhas pernas
fraquejarem, corri para fugir dela e de mim mesma, corri até não conseguir mais
enxergar, corri até não sentir mais nada.
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